setembro 30, 2005
setembro 29, 2005
Cuba
Há o país onde nascemos e que amamos (nem todos…) e aqueles que um dia visitamos e por ele nos apaixonamos. Para mim, é o caso de Cuba.
Entrar em Cuba é entrar num mundo surrealista, é entrar numa outra dimensão, completamente diferente de tudo aquilo a que estamos habituados.
Em Cuba evitei ao máximo os circuitos turísticos e misturei-me com o seu Povo. Dormi nas suas casas e “senti-me em casa”. Comi nas suas salas e senti que estava a partilhar a sua vida. Andei nos seus carros e senti que estava a viver uma experiência única. Ou seja, durante 12 dias vivi em Cuba.
As casas em Havana: estão velhas e a cair mas conseguimos ter a perfeita noção de como seriam antes de chegarem a esse ponto. Não se pense, no entanto, que estão sujas ou que é incómodo entrar nelas. Na realidade podemos entrar em qualquer casa e sentirmo-nos bem, confortáveis e seguros.
O ambiente: a alegria, a música e a dança são uma constante! Nos bares, cafés, restaurantes, hotéis ou, simplesmente, na rua, podemos assistir à actuação de inúmeros grupos que tocam maravilhosamente e dão uma cor e uma alegria que nunca encontrei em mais lado nenhum! A Casa de la Música no centro de Havana tem sempre um espectáculo para nos oferecer, normalmente, com muito boa salsa. A Casa de la Trova em Santiago de Cuba é um lugar “mágico” onde por vezes chegamos a pensar que pode entrar pela porta, e começar a tocar as suas lindas músicas, o nosso querido Compay Segundo.
As pessoas: Lindas! Simpáticas, cordiais, divertidas, alegres, e, apesar de todas as dificuldades, felizes! Sempre prontas a dar dois dedos de conversa, a quererem saber de onde vimos, o que fazemos, como vivemos, o que já visitamos e o que queremos visitar. Sempre dispostas a levarem-nos a um local qualquer que acham bonito e interessante visitar! É certo que têm dificuldades e que, como tal, nos tentam vender sempre qualquer coisa, ou pedem uma bebida, ou recebem as suas comissões em alguns locais onde nos levam. Mas quem lhes pode querer mal se essa é a sua grande fonte de subsistência?! Assim, os cubanos deixaram-me saudades: Oscar e Elsa, os anfitriões; Loly e toda a sua família, os amigos queridos; Ioannis e o seu par, os professores de salsa e pares perfeitos de dança; Juan Carlos, o trovador de Santiago de Cuba; Sailin, Isabel e Tainera, as meigas meninas do Malecon e tantos, tantos outros dos quais não me lembro dos nomes mas de quem nunca me hei-de esquecer!
Havana é sedutora, Santiago de Cuba é mística! Cuba é um sonho que espero poder voltar a visitar e conhecer o tanto que ficou por conhecer! A viagem foi linda e mostrou-me que há muito para viver e que para sermos felizes precisamos de bem menos do que pensamos!!
Entrar em Cuba é entrar num mundo surrealista, é entrar numa outra dimensão, completamente diferente de tudo aquilo a que estamos habituados.
Em Cuba evitei ao máximo os circuitos turísticos e misturei-me com o seu Povo. Dormi nas suas casas e “senti-me em casa”. Comi nas suas salas e senti que estava a partilhar a sua vida. Andei nos seus carros e senti que estava a viver uma experiência única. Ou seja, durante 12 dias vivi em Cuba.
As casas em Havana: estão velhas e a cair mas conseguimos ter a perfeita noção de como seriam antes de chegarem a esse ponto. Não se pense, no entanto, que estão sujas ou que é incómodo entrar nelas. Na realidade podemos entrar em qualquer casa e sentirmo-nos bem, confortáveis e seguros.
O ambiente: a alegria, a música e a dança são uma constante! Nos bares, cafés, restaurantes, hotéis ou, simplesmente, na rua, podemos assistir à actuação de inúmeros grupos que tocam maravilhosamente e dão uma cor e uma alegria que nunca encontrei em mais lado nenhum! A Casa de la Música no centro de Havana tem sempre um espectáculo para nos oferecer, normalmente, com muito boa salsa. A Casa de la Trova em Santiago de Cuba é um lugar “mágico” onde por vezes chegamos a pensar que pode entrar pela porta, e começar a tocar as suas lindas músicas, o nosso querido Compay Segundo.
As pessoas: Lindas! Simpáticas, cordiais, divertidas, alegres, e, apesar de todas as dificuldades, felizes! Sempre prontas a dar dois dedos de conversa, a quererem saber de onde vimos, o que fazemos, como vivemos, o que já visitamos e o que queremos visitar. Sempre dispostas a levarem-nos a um local qualquer que acham bonito e interessante visitar! É certo que têm dificuldades e que, como tal, nos tentam vender sempre qualquer coisa, ou pedem uma bebida, ou recebem as suas comissões em alguns locais onde nos levam. Mas quem lhes pode querer mal se essa é a sua grande fonte de subsistência?! Assim, os cubanos deixaram-me saudades: Oscar e Elsa, os anfitriões; Loly e toda a sua família, os amigos queridos; Ioannis e o seu par, os professores de salsa e pares perfeitos de dança; Juan Carlos, o trovador de Santiago de Cuba; Sailin, Isabel e Tainera, as meigas meninas do Malecon e tantos, tantos outros dos quais não me lembro dos nomes mas de quem nunca me hei-de esquecer!
Havana é sedutora, Santiago de Cuba é mística! Cuba é um sonho que espero poder voltar a visitar e conhecer o tanto que ficou por conhecer! A viagem foi linda e mostrou-me que há muito para viver e que para sermos felizes precisamos de bem menos do que pensamos!!
setembro 27, 2005
Lembrança numa noite furiosa...
A multidão em fúria
passeia placidamente nas ruas da cidade,
de mente plácida,
plácida mente,
enquanto os homens que orientam placidamente
a multidão em fúria
que placidamente passeia nas ruas da cidade,
procuram furiosamente
as soluções plácidas
que orientarão a multidão em fúria
que, placidamente, passeia nas ruas da cidade,
de mente plácida,
plácida mente,
e os sábios buscam furiosamente
as fórmulas plácidas
que, placidamente,
resolverão as dificuldades da multidão em fúria
que passeia nas ruas da cidade
de mente plácida
plácida mente
e todos, todos em suma
placidamente
procuram furiosamente,
de todas as formas plácidas,
atender às inquietações e aos anseios plácidos
da multidão em fúria
que, placidamente, passeia nas ruas da cidade,
e placidamente se assenta nos plécidos bancos das avenidas,
bebendo o ar plácido da noite,
e esperando, placidamente,
as soluções plácidas
para os seus anseios e inquietações furiosas.
"Poema da noite plácida"
António Gedeão
passeia placidamente nas ruas da cidade,
de mente plácida,
plácida mente,
enquanto os homens que orientam placidamente
a multidão em fúria
que placidamente passeia nas ruas da cidade,
procuram furiosamente
as soluções plácidas
que orientarão a multidão em fúria
que, placidamente, passeia nas ruas da cidade,
de mente plácida,
plácida mente,
e os sábios buscam furiosamente
as fórmulas plácidas
que, placidamente,
resolverão as dificuldades da multidão em fúria
que passeia nas ruas da cidade
de mente plácida
plácida mente
e todos, todos em suma
placidamente
procuram furiosamente,
de todas as formas plácidas,
atender às inquietações e aos anseios plácidos
da multidão em fúria
que, placidamente, passeia nas ruas da cidade,
e placidamente se assenta nos plécidos bancos das avenidas,
bebendo o ar plácido da noite,
e esperando, placidamente,
as soluções plácidas
para os seus anseios e inquietações furiosas.
"Poema da noite plácida"
António Gedeão
setembro 26, 2005
Mais um amor infeliz...
Sou apenas a cinza de uma estrela
um viajante de passagem
o rastro de uma bola de fogo arrefecida
um resto
neurónios nervos músculos ossos células
matéria perecível transformável
um bípede de fala e de guitarra
carregado de versos e metáforas
um metro e setenta e cinco de um planeta condenado
amanhã não serei senão uma faísca
um relâmpago na noite
uma faúlha
a sombra de uma sombra ou outra forma de energia
sou o último som de uma última sílaba
uma fórmula um acto uma alquimia
um desastre de Deus na escuridão do além
rosto nenhum corpo de nada
ou talvez a lágrima luminosa
de ninguém.
Terceiro Poema do Pescador, in "Senhora das Tempestades"
Manuel Alegre, 1998
setembro 23, 2005
Para um tratado dos amores infelizes.
Je vous ai apporté des bonbons
Parce que les fleurs c'est périssable
Puis les bonbons c'est tellement bon
Bien que les fleurs soient plus présentables
Surtout quand elles sont en boutons
Mais je vous ai apporté des bonbons
J'espère qu'on pourra se promener
Que madame votre mère ne dira rien
On ira voir passer les trains
A huit heures je vous ramènerai
Quel beau dimanche pour la saison
Je vous ai apporté des bonbons
Si vous saviez ce que je suis fier
De vous voir pendue à mon bras
Les gens me regardent de travers
Y en a même qui rient derrière moi
Le monde est plein de polissons
Je vous ai apporté des bonbons
Oh oui Germaine est moins bien que vous
Oh oui Germaine elle est moins belle
C'est vrai que Germaine a des cheveux roux
C'est vrai que Germaine elle est cruelle
Ça vous avez mille fois raison
Je vous ai apporté des bonbons
Et nous voilà sur la Grand' Place
Sur le kiosque on joue Mozart
Mais dites-moi que c'est par hasard
Qu'il y a là votre ami Léon
Si vous voulez que je cède ma place
J'avais apporté des bonbons
Mais bonjour mademoiselle Germaine
Je vous ai apporté des bonbons
Parce que les fleurs c'est périssable
Puis les bonbons c'est tellement bon
Bien que les fleurs soient plus présentables...
Les bonbons (version 1964)
Parce que les fleurs c'est périssable
Puis les bonbons c'est tellement bon
Bien que les fleurs soient plus présentables
Surtout quand elles sont en boutons
Mais je vous ai apporté des bonbons
J'espère qu'on pourra se promener
Que madame votre mère ne dira rien
On ira voir passer les trains
A huit heures je vous ramènerai
Quel beau dimanche pour la saison
Je vous ai apporté des bonbons
Si vous saviez ce que je suis fier
De vous voir pendue à mon bras
Les gens me regardent de travers
Y en a même qui rient derrière moi
Le monde est plein de polissons
Je vous ai apporté des bonbons
Oh oui Germaine est moins bien que vous
Oh oui Germaine elle est moins belle
C'est vrai que Germaine a des cheveux roux
C'est vrai que Germaine elle est cruelle
Ça vous avez mille fois raison
Je vous ai apporté des bonbons
Et nous voilà sur la Grand' Place
Sur le kiosque on joue Mozart
Mais dites-moi que c'est par hasard
Qu'il y a là votre ami Léon
Si vous voulez que je cède ma place
J'avais apporté des bonbons
Mais bonjour mademoiselle Germaine
Je vous ai apporté des bonbons
Parce que les fleurs c'est périssable
Puis les bonbons c'est tellement bon
Bien que les fleurs soient plus présentables...
Les bonbons (version 1964)
Contributo do MEC (com a devida vénia, ao próprio, ao Expresso, e ao Zé Micks!), para o tratado do Sousa...
Elogio ao amor
(Miguel Esteves Cardoso - Expresso )
""Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma
coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode
ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível
não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro.
Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O
que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se
apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém
aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de
prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado.
Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais
barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das
calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de
antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor
passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios.
Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa
variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem.
A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor
tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se
apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do
amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas,
farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.
Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas
como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de
ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do
"tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos,
bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.
Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim,
a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um
cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor
é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é
para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa
que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um
jeitinho sentimental".
Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos
casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria,
maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao
pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse
perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não
é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão
de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu,
a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.
O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A
"vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um
fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição.
Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe.
Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa
alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não
apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a
ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta
e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode
matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num
olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por
muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos
escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem
se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se
ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver
sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder.
Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida
inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E
valê-la também.""
(Miguel Esteves Cardoso - Expresso )
""Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma
coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode
ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível
não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro.
Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O
que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se
apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém
aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de
prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado.
Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais
barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das
calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de
antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor
passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios.
Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa
variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem.
A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor
tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se
apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do
amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas,
farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.
Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas
como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de
ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do
"tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos,
bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.
Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim,
a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um
cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor
é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é
para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa
que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um
jeitinho sentimental".
Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos
casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria,
maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao
pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse
perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não
é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão
de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu,
a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.
O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A
"vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um
fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição.
Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe.
Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa
alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não
apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a
ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta
e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode
matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num
olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por
muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos
escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem
se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se
ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver
sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder.
Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida
inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E
valê-la também.""
setembro 22, 2005
Para um tratado dos amores infelizes.
La niña de Guatemala
Quiero, a la sombra de un ala,
Contar este cuento en flor:
La niña de Guatemala,
La que se murió de amor.
Eran de lirios los ramos,
Y las orlas de reseda
Y de jazmín: la enterramos
En una caja de seda.
...Ella dio al desmemoriado
Una almohadilla de olor:
El volvió, volvió casado:
Ella se murió de amor.
Iban cargándola en andas
Obispos y embajadores:
Detrás iba el pueblo en tandas,
Todo cargado de flores.
...Ella, por volverlo a ver,
Salió a verlo al mirador:
El volvió con su mujer:
Ella se murió de amor.
Como de bronce candente
Al beso de despedida
Era su frente ¡la frente
Que más he amado en mi vida!
...Se entró de tarde en el río,
La sacó muerta el doctor:
Dicen que murió de frío:
Yo sé que murió de amor.
Allí, en la bóveda helada,
La pusieron en dos bancos:
Besé su mano afilada,
Besé sus zapatos blancos.
Callado, al oscurecer,
Me llamó el enterrador:
¡Nunca más he vuelto a ver
A la que murió de amor
José Martí
Quiero, a la sombra de un ala,
Contar este cuento en flor:
La niña de Guatemala,
La que se murió de amor.
Eran de lirios los ramos,
Y las orlas de reseda
Y de jazmín: la enterramos
En una caja de seda.
...Ella dio al desmemoriado
Una almohadilla de olor:
El volvió, volvió casado:
Ella se murió de amor.
Iban cargándola en andas
Obispos y embajadores:
Detrás iba el pueblo en tandas,
Todo cargado de flores.
...Ella, por volverlo a ver,
Salió a verlo al mirador:
El volvió con su mujer:
Ella se murió de amor.
Como de bronce candente
Al beso de despedida
Era su frente ¡la frente
Que más he amado en mi vida!
...Se entró de tarde en el río,
La sacó muerta el doctor:
Dicen que murió de frío:
Yo sé que murió de amor.
Allí, en la bóveda helada,
La pusieron en dos bancos:
Besé su mano afilada,
Besé sus zapatos blancos.
Callado, al oscurecer,
Me llamó el enterrador:
¡Nunca más he vuelto a ver
A la que murió de amor
José Martí
setembro 21, 2005
setembro 20, 2005
Se a Ilsa tivesse utilizado a fórmula do Vinicius a coisa tinha corrido muito melhor para eles. O chato é que não tínhamos o Casablanca. Como não somos nem o Rick nem a Ilsa aqui vai uma fórmula que, segundo reza a história, funcionava com o tio Vinicius.
Soneto da Fidelidade
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei-de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Soneto da Fidelidade
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei-de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Diz o povo na sua imensa sabedoria que para quem não sabe foder até os colhões atrapalham. Não sei se o povo é sábio sempre mas neste caso parece-me que é.
Assim aqui vai, bem formatado, o poema original e a foto do Sam a tocar as time goes by. Repare-se na coragem do dito cujo que embora proibido formalmente pelo patrão de tocar tal coisa se atreveu. E cá para nós o Rick não devia ser nada bom de assoar e um despedimento em Casablanca nessa altura devia ser coisa fácil e rápida.
Mas também quem resitia à bela Ilsa?
Até o Sousita que não sabe tocar piano tocava as Czardas... e só com uma mão!
Aqui vai o texto do pedido:
Ilsa: Play it once, Sam. For old times' sake.
Sam: [lying] I don't know what you mean, Miss Elsa.
Ilsa: Play it, Sam. Play "As Time Goes By."
Sam: [lying] Oh, I can't remember it, Miss Elsa. I'm a little rusty on it.
Ilsa: I'll hum it for you. Da-dy-da-dy-da-dum, da-dy-da-dee-da-dum...
[Sam begins playing]
Ilsa: Sing it, Sam.
You must remember this
A kiss is just a kiss, a sigh is just a sigh.
The fundamental things apply
As time goes by.
And when two lovers woo
They still say, "I love you."
On that you can rely
No matter what the future brings
As time goes by.
Moonlight and love songs
Never out of date.
Hearts full of passion
Jealousy and hate.
Woman needs man
And man must have his mate
That no one can deny.
It's still the same old story
A fight for love and glory
A case of do or die.
The world will always welcome lovers
As time goes by.
Oh yes, the world will always welcome lovers
As time goes by.
O poema original tem uma parte que é omitida no filme. Sabe Deus Porque.
Rezam assim e são o inicio:
This day and age we're living in
Gives cause for apprehension
With speed and new invention
And things like fourth dimension.
Yet we get a trifle weary
With Mr. Einstein's theory.
So we must get down to earth at times
Relax relieve the tension
And no matter what the progress
Or what may yet be proved
The simple facts of life are such
They cannot be removed.
Ilsa: Play it once, Sam. For old times' sake.
Sam: I don't know what you mean, Miss Elsa.
Ilsa: Play it, Sam. Play "As Time Goes By."
Sam: Oh, I can't remember it, Miss Elsa. I'm a little rusty on it.
Ilsa: I'll hum it for you. Da-dy-da-dy-da-dum, da-dy-da-dee-da-dum...
Ilsa: Sing it, Sam.
Sam: You must remember this / A kiss is still a kiss / A sigh is just a sigh / The fundamental things apply / As time goes by. / And when two lovers woo, / They still say, "I love you" / On that you can rely / No matter what the future brings-...
Rick: Sam, I thought I told you never to play-...