setembro 26, 2005

Mais um amor infeliz...




Sou apenas a cinza de uma estrela


um viajante de passagem


o rastro de uma bola de fogo arrefecida


um resto


neurónios nervos músculos ossos células


matéria perecível transformável


um bípede de fala e de guitarra


carregado de versos e metáforas


um metro e setenta e cinco de um planeta condenado


amanhã não serei senão uma faísca


um relâmpago na noite


uma faúlha


a sombra de uma sombra ou outra forma de energia


sou o último som de uma última sílaba


uma fórmula um acto uma alquimia


um desastre de Deus na escuridão do além


rosto nenhum corpo de nada


ou talvez a lágrima luminosa


de ninguém.





Terceiro Poema do Pescador, in "Senhora das Tempestades"



Manuel Alegre, 1998