abril 29, 2006
abril 21, 2006
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio...
Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quise'ssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.
(Odes de Ricardo Reis)
abril 19, 2006
abril 18, 2006
Lembro-me de ti...
Lembro-me de ti a mostrares os teus tesouros que guardas em vitrines…
Lembro-me de ti a mostrares os livros que guardas com tanto amor…
Lembro-me de ti a contares histórias inventadas como se contasses grandes verdades…
Lembro-me de ti a corrigires o nosso português tantas vezes mal utilizado…
Lembro-me de ti a vires ter comigo para tomares um café a meio do meu dia de trabalho…
Lembro-me de ti a falar de mim cheio de orgulho e a fazeres-me sentir especial…
Lembro-me de ti a dizeres que não gostas de “meninas que estão doentes”…
Lembro-me de ti a saíres do quarto-de-banho com creme de barbear na cara para nos dares um beijo…
Lembro-me de ti a chamares-me “meu amor”…
Lembro-me de ti a chamares a minha Avó de “bébézinho”…
Gosto muito de ti e vou gostar sempre! Obrigada por teres estado tão presente na minha Vida! Gostava de estar mais presente na tua neste momento… mas não sei como fazê-lo… Este é uma forma que arranjei de me sentir mais perto de ti…
abril 17, 2006
abril 16, 2006
Páscoa
A Páscoa é símbolo de renascimento. Para os Judeus é a comemoração da saída do Egipto, onde eram escravos, em busca da Liberdade. Para os Cristãos é a comemoração da ressurreição de Jesus Cristo. É, como tal, e sem dúvida, o símbolo do renascimento.
E não é preciso ser Judeu ou Cristão para viver esta época como uma época de festejo. Nós, os ocidentais, vivemos numa cultura judaica-cristã e, como tal, assimilámos muitos dos seus conceitos. Podemos então, ainda que agnósticos ou ateus, viver esta época de uma forma especial.
Os dias anteriores à Páscoa podem ser vividos em introspecção, numa procura de nós mesmos e da nossa essência. O dia de Páscoa pode ser vivido com a alegria de nos termos reencontrado e, por isso, renascido mais um pouco. E se em cada ano fizermos o mesmo, todos os anos cresceremos efectivamente mais um pouco e cada ano nos tornaremos mais nós. E imaginem se isto fosse feito todos os dias... as possibilidades que isso acarretaria...!
Espero que tenham tido uma boa Páscoa!
E não é preciso ser Judeu ou Cristão para viver esta época como uma época de festejo. Nós, os ocidentais, vivemos numa cultura judaica-cristã e, como tal, assimilámos muitos dos seus conceitos. Podemos então, ainda que agnósticos ou ateus, viver esta época de uma forma especial.
Os dias anteriores à Páscoa podem ser vividos em introspecção, numa procura de nós mesmos e da nossa essência. O dia de Páscoa pode ser vivido com a alegria de nos termos reencontrado e, por isso, renascido mais um pouco. E se em cada ano fizermos o mesmo, todos os anos cresceremos efectivamente mais um pouco e cada ano nos tornaremos mais nós. E imaginem se isto fosse feito todos os dias... as possibilidades que isso acarretaria...!
Espero que tenham tido uma boa Páscoa!
Poema de Páscoa...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!,
o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses!
Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
Álvaro de Campos, 1929
abril 13, 2006
O Livro e o Filme
Umas vezes lemos um livro, depois sai um filme sobre esse livro, vamos vê-lo todos contentes e temos uma enorme desilusão! Outras vezes vamos ver um filme baseado num livro que nunca lemos, gostamos do filme, lemos o livro e achamo-lo fantástico!
Pode ser que com outras pessoas aconteça o contrário e prefiram sempre o filme. Comigo acontece sempre assim: prefiro o livro ao filme!
O livro, em princípio, desenvolve mais a história mas a questão nem passa por aí. É que o filme não deixa espaço à imaginação. As imagens estão ali, estamos a ver a cara das personagens, a ver os cenários, a ver as expressões, etc. O livro são letras, que se juntam em palavras, para formar frases, parágrafos, capítulos e, por fim, o próprio livro. Não tem imagens (alguns têm mas esses não interessam para o que estou a dizer) e, como tal, a nossa imaginação é livre de “ver” o que quiser. Entramos verdadeiramente na história, vivemo-la mesmo intensamente. Às vezes nem conseguimos parar até chegarmos ao fim. E, quantas vezes, não chegamos cansados por termos vivido aquelas vidas que não são as nossas mas que, por momentos, parecem ser?
Para mim, são amigos muito queridos. Com alguns tenho mais afinidade, simpatizo mais, crio mais laços de ternura. Com outros, a relação é mais distante, mais formal. Alguns ficam interrompidos por um tempo porque não estamos na mesma sintonia mas o reencontro é muitas vezes enriquecedor. Outros gosto de os rever, e rever, e rever! Gosto de pegar nesses meus amigos, de passar as mão pelas suas folhas e de lhes sentir o cheiro.
Adoro cinema! Mas entre uma história contada em livro ou em filme prefiro o livro!
abril 12, 2006
Deserto...
Quatro dias de caminhada. Quatro dias de uma beleza diferente daquela a que nos habituámos. Quatro dias a pensar em cada momento que se vive porque se a mente divaga o corpo não aguenta. Quatro dias em contacto com a nossa essência. Quatro dias de imensidão, de árvores que afinal são arbustos, de vento que não nos deixa avançar, de companheirismo, de entreajuda, de contacto com mais do que uma cultura diferente da nossa, de almoços em pequenos oásis, de montagem e desmontagem de tendas, de casas-de-banho imensas, de banhos “diferentes”, de perseverança, de vontade de chegar ao fim sem nunca desistir.
Quatro noites de jantares em tendas enormes, de convívio com os nossos companheiros de jornada, de brincadeiras de um guia com uma novata nestas coisas, de explicações de culturas, de conversas numa língua tão diferente, de vento, de silêncio, de estrelas, muitas estrelas.
Quatro dias e quatro noites para nunca mais esquecer…
PS – Paulo, desculpa aproveitar-me da tua ideia ;).
abril 11, 2006
abril 03, 2006
Breakfast on Pluto
Nem todas as críticas são muito favoráveis a este filme. Há quem diga que cai em lugares comuns ou que a história está mal contada.
Eu, por mim, digo que adorei o filme. Um rapaz que poderia deixar-se abater por todas as circunstâncias da sua vida, faz do optimismo, da boa disposição e do seu amor aos outros os seus lemas de vida e assim vai ultrapassando todos os desafios que a vida lhe coloca. Esta é a grande mensagem deste filme.