janeiro 15, 2009

A unha partida


Numa viagem, uns amigos tiveram um acidente e um deles ficou bastante ferido tendo que regressar a casa. Os outros tiveram que reunir energias, manter a força e a boa disposição e também a capacidade organizativa para que o amigo recebesse o melhor tratamento nos hospitais e para que o seu regresso a casa corresse da melhor forma.

Ao fim do dia, depois de tudo resolvido, uma das amigas, a mais optimista e com maior capacidade de organização, olhou para a sua mão, viu uma unha partida e… desabou. Foi a gota de água!

Alguém mais distraído poderá olhar para esta história e pensar coisas como: “mulheres!”, “frívola!”, “histérica!”, “insensível!”

Alguém mais atento perceberá a situação completamente: quando o copo enche demais basta uma gota para fazer transbordar a água.

E se transpusermos isto para as nossas Vidas?

Quantas vezes na nossa vida vamos acumulando dores, ansiedades, tristezas sem fazermos nada porque a nossa única preocupação é lutar todos os dias para levarmos a nossa vida para a frente? Achamos que aguentamos tudo, que somos fortes, que somos pilares dos outros, que os outros precisam de nós e que temos que estar presentes e de boa cara.

Um dia, um pequeno acontecimento, uma coisa de nada, faz-nos perder o rumo, a calma, a serenidade, faz-nos entrar em depressão ou em qualquer outra situação de desequilíbrio.

Numa situação com a que contei do acidente, não há, provavelmente, outra coisa a fazer a não ser deixar para chorar mais tarde. Mas quantas vezes nas nossas vidas não podíamos ir procurando ajuda, profissional ou apenas de quem gosta de nós, e não o fazemos porque achamos que aguentamos tudo?

…………. Até a unha partir!



2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Quando o meu pai morreu, tinha eu 10 anos, não consegui interiorizar de imediato a perda, apesar de ter comparecido no velório e no funeral. Claro que chorei, claro que me senti triste, mas era tudo muito confuso. Foi dificil após, porque me esquecia e mantinha hábitos como ir para o portão à hora a que ele costumava chegar. Depois, passado uns tempos (talvez um mês ou dois, já não sei bem), fui finalmente assaltada pelo desgosto, e assumi definitivamente a perda: encontrei uma coisa, um recorte de jornal que ele trazia sempre na carteira, que dizia algo como "se hoje a vida não te sorri, pensa que amanhã, o sol nascerá, e talvez seja para ti". (Ainda tenho o recorte, mas não está aqui, está em casa.) Foi nessa altura que realmente chorei.

No dia a dia as coisas não são tão marcantes como um acidente ou uma morte: no 1º caso porque a premência de fazer algo impede a exteriorização, no 2º porque a dimensão impede a interiorização.

E esse é o grande problema... as pequenas grandes coisas que acumulamos, sem nos apercebermos, ou apercebendo-nos, sem lhes dar o real valor.

É como os dentes: enquanto doem pouco, vai-se tomando aspirina; quando doem muito, é o cabo dos trabalhos para resolver o assunto!


beijo
Fati

janeiro 15, 2009 1:04 da tarde  
Blogger Luis Carlos said...

Olá Salseira,

Pois, o que se deve fazer é ir esvaziando o copo, um pouco todos os dias, por que sabemos que iremos pôr mais água durante os dias da nossa vida reprimida.

Devemos ter um espaço para as nossas catarses, para possamos viver plenamente.

Por comparação com o nosso corpo físico, o nosso corpo mental precisa de se alimentar e também necessita de evacuar, senão acontece a doença, o mal-estar.

Até já,
Luís Carlos

janeiro 16, 2009 1:19 da tarde  

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