fevereiro 23, 2006
Cartas de Amor
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente Ridículas.)
Fernando Pessoa, Cartas de Amor
(Imagem: Luis Badosa, Esp.)
fevereiro 21, 2006
fevereiro 19, 2006
fevereiro 15, 2006
Casa
Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.
Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.
Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão. . .
Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que sem voz me sai do coração.
David Mourão Ferreira
Infinito Pessoal
(1959-1962)
Obra Poética
1948-1988
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.
Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.
Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão. . .
Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que sem voz me sai do coração.
David Mourão Ferreira
Infinito Pessoal
(1959-1962)
Obra Poética
1948-1988
fevereiro 14, 2006
Soneto do Maior Amor
Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada
E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal aventurada.
Louco amor meu que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo
Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo
Vinicius de Moraes
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada
E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal aventurada.
Louco amor meu que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo
Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo
Vinicius de Moraes
fevereiro 13, 2006
fevereiro 11, 2006
Há quase um ano, escrevi este disparate sobre o túnel (de Ceuta). Afinal o happy-end nada fica a dever à caricatura!...
O museu prejudica o túnel - e o túnel prejudica o museu.
Assim, a solução ideal é um acabar ao pé do outro, de preferência dentro do outro!
Esqueçamos o Museu Nacional - não serve para nada, e alivia o Orçamento...
Sugiro então que se transforme o Palácio dos Carrancas, preservando a fachada, num monumento oco, com entrada e saída apenas pela Praça Filipa de Lencastre - dotado das mais modernas tecnologias, todo ele concebido como homenagem carrancuda à conjugação irreproduzível da mais sublime estupidez humana, vertida ao serviço do urbanismo, da engenharia e da política.
Gozaria assim a Cidade, para gáudio e formação das gerações vindouras, de um espaço interactivo - exemplo de solução fundida com o problema: como terminar um túnel que começou, muitos anos antes, sem se saber ao certo como ia, por onde ia e para onde ia...
Passem palavra, faremos um abaixo-assinado.
Nesta Cidade do século XXI, a utopia ainda é possível!
fevereiro 10, 2006
fevereiro 08, 2006
fevereiro 07, 2006
A intolerância muçulmana.
Num comentário recente a um respeitável post deste nosso sítio, revelei há dias um pouco da intolerância radical que me começa a merecer a intolerância muçulmana.
Para qualquer alma bem formada ( segundo o meu discutível critério ) é absurdo, revoltante e repugnante que a intolerância religiosa, manipulada politicamente, esteja a causar dezenas de mortos, prejuízos materiais de milhões, e o desassossego do Mundo - e isto com base em supostas ofensas a um Profeta ( discutível como todos os profetas ), consumadas há meses, através de desenhos toscos num jornal anódino.
O Mundo está, há muito, perigoso, e o Ocidente - o europeu, principalmente - começa a manifestar, perigosamente, o síndrome do sequestrado.
Lembram-se do que vem sucedendo desde Munique?... Uma das tácticas mais conhecidas da guerrilha terrorista é a de o refém ser arrastado para um estado psicologico de identificação ou compreensão com a causa do sequestrador.
Se é um facto insofismável que o Ocidente vem sendo conduzido para o sequestro político, tenho para mim que este "status quo" radica na economia: o petróleo está quase todo lá - nas cercanias dos poucos milhares de quilómetros quadrados para que misteriosamente convergiram (ou do qual divergiram?...) todas as religiões deistas do Mundo.
Apesar disso, com base nessa opção energética - que tem menos de um século, como muitas outras coisas - continuamos alegremente a caminho do abismo ambiental, e reflectimos, com bonomia bem pensante, sobre o crescimento do consumo energético chinês...
A um Mestre que muito fiquei a admirar, ouvi há uns anos que todos (quase todos...) os problemas da nossa civilização teriam solução, porque 98% dos investigadores da História da Humanidade estão vivos, e a trabalhar!
Eu também acho.
Se a Europa ainda tivesse líderes - mais do que "estratégias" para responder à globalização, negociações sobre adesões absurdas, apoios a suicídios guerreiros em países ingovernáveis, ou recepções subservientes a gurus da informática - esses anunciariam, falando apenas de política, e enunciando a coisa sem artifícios, um novo paradigma de desevolvimento e segurança europeias.
Obrigariam ou promoviam, directa ou indirectamente, que toda a indústria automóvel europeia, a partir de amanhã, passasse a afectar 15% dos seus lucros e 30% dos seus custos de I&D na solução "hidrogénio"; subsidiariam fortemente, para ontem, a comunidade científica em projectos alterntivos na mesma área, para que haja resultados em meia dúzia de anos.
E diriam para quê e porquê: "acabar", em dez anos, com o condicionamento da economia mundial pelo petróleo e pelos sucessivos "choque petrolíferos" - e descentrar de novo a conflitualidade essencial da Humanidade da órbita dos árabes e da questão israelo-palestiniana!
Veriam que muita coisa acalmava - e até os Americanos voltavam a vir cá mais vezes, para se legitimarem sobre qualquer coisinha mais afoita que lhes ocorresse, como sucedia há vinte anos...
Para qualquer alma bem formada ( segundo o meu discutível critério ) é absurdo, revoltante e repugnante que a intolerância religiosa, manipulada politicamente, esteja a causar dezenas de mortos, prejuízos materiais de milhões, e o desassossego do Mundo - e isto com base em supostas ofensas a um Profeta ( discutível como todos os profetas ), consumadas há meses, através de desenhos toscos num jornal anódino.
O Mundo está, há muito, perigoso, e o Ocidente - o europeu, principalmente - começa a manifestar, perigosamente, o síndrome do sequestrado.
Lembram-se do que vem sucedendo desde Munique?... Uma das tácticas mais conhecidas da guerrilha terrorista é a de o refém ser arrastado para um estado psicologico de identificação ou compreensão com a causa do sequestrador.
Se é um facto insofismável que o Ocidente vem sendo conduzido para o sequestro político, tenho para mim que este "status quo" radica na economia: o petróleo está quase todo lá - nas cercanias dos poucos milhares de quilómetros quadrados para que misteriosamente convergiram (ou do qual divergiram?...) todas as religiões deistas do Mundo.
Apesar disso, com base nessa opção energética - que tem menos de um século, como muitas outras coisas - continuamos alegremente a caminho do abismo ambiental, e reflectimos, com bonomia bem pensante, sobre o crescimento do consumo energético chinês...
A um Mestre que muito fiquei a admirar, ouvi há uns anos que todos (quase todos...) os problemas da nossa civilização teriam solução, porque 98% dos investigadores da História da Humanidade estão vivos, e a trabalhar!
Eu também acho.
Se a Europa ainda tivesse líderes - mais do que "estratégias" para responder à globalização, negociações sobre adesões absurdas, apoios a suicídios guerreiros em países ingovernáveis, ou recepções subservientes a gurus da informática - esses anunciariam, falando apenas de política, e enunciando a coisa sem artifícios, um novo paradigma de desevolvimento e segurança europeias.
Obrigariam ou promoviam, directa ou indirectamente, que toda a indústria automóvel europeia, a partir de amanhã, passasse a afectar 15% dos seus lucros e 30% dos seus custos de I&D na solução "hidrogénio"; subsidiariam fortemente, para ontem, a comunidade científica em projectos alterntivos na mesma área, para que haja resultados em meia dúzia de anos.
E diriam para quê e porquê: "acabar", em dez anos, com o condicionamento da economia mundial pelo petróleo e pelos sucessivos "choque petrolíferos" - e descentrar de novo a conflitualidade essencial da Humanidade da órbita dos árabes e da questão israelo-palestiniana!
Veriam que muita coisa acalmava - e até os Americanos voltavam a vir cá mais vezes, para se legitimarem sobre qualquer coisinha mais afoita que lhes ocorresse, como sucedia há vinte anos...
fevereiro 06, 2006
Desculpem a repetição...
Sou apenas a cinza de uma estrela
um viajante de passagem
o rastro de uma bola de fogo arrefecida
um resto
neurónios nervos músculos ossos células
matéria perecível transformável
um bípede de fala e de guitarra
carregado de versos e metáforas
um metro e setenta e cinco de um planeta condenado
amanhã não serei senão uma faísca
um relâmpago na noite
uma faúlha
a sombra de uma sombra ou outra forma de energia
sou o último som de uma última sílaba
uma fórmula um acto uma alquimia
um desastre de Deus na escuridão do além
rosto nenhum corpo de nada
ou talvez a lágrima luminosa
de ninguém.
Terceiro Poema do Pescador, in "Senhora das Tempestades"
Manuel Alegre, 1998
um viajante de passagem
o rastro de uma bola de fogo arrefecida
um resto
neurónios nervos músculos ossos células
matéria perecível transformável
um bípede de fala e de guitarra
carregado de versos e metáforas
um metro e setenta e cinco de um planeta condenado
amanhã não serei senão uma faísca
um relâmpago na noite
uma faúlha
a sombra de uma sombra ou outra forma de energia
sou o último som de uma última sílaba
uma fórmula um acto uma alquimia
um desastre de Deus na escuridão do além
rosto nenhum corpo de nada
ou talvez a lágrima luminosa
de ninguém.
Terceiro Poema do Pescador, in "Senhora das Tempestades"
Manuel Alegre, 1998
fevereiro 04, 2006
O delírio em nome de Maomé.
Um jornal nórdico que ninguém conhece publicou uns cartoons de má qualidade com um senhor de barbas - e disse que com isso queria blasfemar, provocar e não sei que alarvidades mais...
A Humanidade passou a discutir isso como se daí dependesse a sua sobrevivência - e como se a liberdade de expressão (que só existe onde existe, e aí não precisa de defesa nem de demonstração...) estivesse em risco.
A grande utilidade desta polémica é a descoberta de mais um link interessante (clickem em cima do título) - e não tenham receio os nossos "contributors": só estamos a citar, não fizemos nada, e de todo o modo nunca haveriam bombas que chegassem...
A Humanidade passou a discutir isso como se daí dependesse a sua sobrevivência - e como se a liberdade de expressão (que só existe onde existe, e aí não precisa de defesa nem de demonstração...) estivesse em risco.
A grande utilidade desta polémica é a descoberta de mais um link interessante (clickem em cima do título) - e não tenham receio os nossos "contributors": só estamos a citar, não fizemos nada, e de todo o modo nunca haveriam bombas que chegassem...
fevereiro 03, 2006
A eutanásia
Um homem e sua mulher estavam sentados na sala de estar e ele disse
para ela:
Apenas para saberes, jamais quero viver em estado vegetativo, dependente de alguma máquina e de fluido de algum frasco. Se isso um dia acontecer, por favor puxa o fio da tomada!
A mulher levantou-se, desligou a TV e deitou fora toda a cerveja.
(autor desconhecido, recebido por e-mail)
para ela:
Apenas para saberes, jamais quero viver em estado vegetativo, dependente de alguma máquina e de fluido de algum frasco. Se isso um dia acontecer, por favor puxa o fio da tomada!
A mulher levantou-se, desligou a TV e deitou fora toda a cerveja.
(autor desconhecido, recebido por e-mail)
Liberdade de Expressão.
Hoje, mais do que em muitos outros dias, urge perguntarmo-nos o que é a Liberdade de Expressão e quais os seus limites.
Sou filha e neta de jornalistas e admiro imenso a profissão. Adoro ouvir o meu Avô a contar histórias da Censura: de como ele tinha que levar os textos para serem aprovados, da ginástica que se fazia para que determinadas coisas passassem no crivo do “lápis vermelho”, já vi imensas notícias riscadas e com comentários idiotas ao lado. Enfim, histórias de: como era viver num tempo em que não havia liberdade de expressão.
Por sentir muito amor à Liberdade e achar que todos têm direito a exprimirem-se já tive problemas. Não admito que se corte a palavra, escrita ou verbal, a ninguém. Mas há um limite que me imponho sempre: a minha liberdade termina onde começa a dos outros. Outro ponto muito importante a ter em conta é o facto de que a minha realidade não é igual à do meu vizinho.
Tudo isto por causa da recente polémica com as caricaturas de Maomé. Será justo andarem a publicar-se umas caricaturas que humilham uma religião e um povo? Não se pode admitir que porque dizemos o que pensamos alguém nos ameace de morte mas, para provarmos uma ideia, temos o direito de humilhar os outros?
Já todos sabemos que o António desenhou o Papa com um preservativo no nariz e que, apesar de alguns se terem revoltado, não houve nenhuma grande crise. Mas porque nós não nos sentimos com determinadas coisas os outros também não se podem sentir? E será um preservativo no nariz tão humilhante como as caricaturas que por aí circulam? E identificar uma religião com todos os radicais dessa religião será justo?
Na minha opinião, não é a liberdade de expressão por si só que está aqui em causa. Está também em causa o amor e respeito pelo próximo!
Sou filha e neta de jornalistas e admiro imenso a profissão. Adoro ouvir o meu Avô a contar histórias da Censura: de como ele tinha que levar os textos para serem aprovados, da ginástica que se fazia para que determinadas coisas passassem no crivo do “lápis vermelho”, já vi imensas notícias riscadas e com comentários idiotas ao lado. Enfim, histórias de: como era viver num tempo em que não havia liberdade de expressão.
Por sentir muito amor à Liberdade e achar que todos têm direito a exprimirem-se já tive problemas. Não admito que se corte a palavra, escrita ou verbal, a ninguém. Mas há um limite que me imponho sempre: a minha liberdade termina onde começa a dos outros. Outro ponto muito importante a ter em conta é o facto de que a minha realidade não é igual à do meu vizinho.
Tudo isto por causa da recente polémica com as caricaturas de Maomé. Será justo andarem a publicar-se umas caricaturas que humilham uma religião e um povo? Não se pode admitir que porque dizemos o que pensamos alguém nos ameace de morte mas, para provarmos uma ideia, temos o direito de humilhar os outros?
Já todos sabemos que o António desenhou o Papa com um preservativo no nariz e que, apesar de alguns se terem revoltado, não houve nenhuma grande crise. Mas porque nós não nos sentimos com determinadas coisas os outros também não se podem sentir? E será um preservativo no nariz tão humilhante como as caricaturas que por aí circulam? E identificar uma religião com todos os radicais dessa religião será justo?
Na minha opinião, não é a liberdade de expressão por si só que está aqui em causa. Está também em causa o amor e respeito pelo próximo!
fevereiro 01, 2006
É uma grande verdade (recebida por e-mail)...
Com razão ficaram célebres os ditos de Ramada Curto ( 1872-1961 ), conhecido advogado e politico opositor do Estado Novo,
como este que, em nossa opinião, tão bem nos caracteriza enquanto Povo:
“ A verdadeira vocação dos portugueses é socializar os prejuízos e individualizar os lucros “
como este que, em nossa opinião, tão bem nos caracteriza enquanto Povo:
“ A verdadeira vocação dos portugueses é socializar os prejuízos e individualizar os lucros “