outubro 28, 2005

Porque o Sousa me recordou Natália...













Este demais rancor amor de menos
esta fétida véspera de extermínios
estes cínicos cristos estes cénicos
doces venham a mim os pequeninos

esta mesma porção de outros venenos
esta apenas mudança de domínios
estes canhotos credos obscenos
este avante deveras só nos hinos

este cio de pústula este assunto
de piranhas de pântano este muito
traseiro à mostra de uma raça pouca

esta queimada flor de um anjo vesgo
com pétalas de Abril escreveu a esmo
no fogo fátuo de uma data torta

in Epístola aos Iamitas, 1976

outubro 25, 2005

"Lost in translation"...

Desenrascanço (impossible translation into English): is a Portuguese
word used to describe the capacity to improvise in the most
extraordinary situations possible, against all odds, resulting in a
hypothetical good-enough solution. Portuguese people believe it to be
one of the most valued virtues of theirs.

From: Wikipedia, the free encyclopedia

Cinco judeus que revolucionaram o mundo...

Moisés disse: a Lei é TUDO...
Jesus disse: o Amor é TUDO...
Marx disse: o Capital é TUDO...
Freud disse: o Sexo é TUDO...

... e veio Einstein e disse: TUDO é relativo...

outubro 23, 2005


Definitivamente no tratado dos amores infelizes.
O Sousa da ponte

outubro 22, 2005

O Sousita não sabe se classifica nos amores infelizes ou nos outros



O Sousa da ponte

É um original do José Vilhena

outubro 20, 2005


Para um tratado dos amores infelizes.
O Sousa da ponte

outubro 19, 2005

a propósito do terramoto na Ásia e da tempestade em N.Orleans

Dói muito mais arrancar um cabelo a um europeu

que amputar uma perna, a frio, a um africano.

Passa mais fome um francês com três refeições por dia

que um sudanês com um rato por semana.

É muito mais doente um alemão com gripe

que um indiano com lepra.

Sofre muito mais uma americana com caspa

que uma iraquiana sem leite para os filhos.

É mais perverso cancelar o cartão de crédito a um belga

que roubar o pão da boca a um tailandês.

É muito mais grave deitar um papel para o chão na Suíça

que queimar uma floresta inteira no Brasil.

É muito mais intolerável o shador de uma muçulmana

que o drama de mil desempregados em Espanha.

É mais obscena a falta de papel higiénico num lar sueco

que a de água potável em dez aldeias do Sudão.

É mais inconcebível a escassez de gasolina na Holanda

que a de insulina nas Honduras.

É mais revoltante um português sem telemóvel

que um moçambicano sem livros para estudar.

É mais triste uma laranjeira seca num colonato hebreu

que a demolição de um lar na Palestina.

Traumatiza mais a falta de uma Barbie uma menina inglesa

que a visão do assassínio dos pais a um menino ugandês

e isto não são versos; isto são débitos

numa conta sem provisão do ocidente.





Fernando Correia Pina

Para um tratado dos amores infelizes




- Onde é Monchique? - perguntou Simão a Mariana.

- É acolá, senhor Simão - respondeu indicando-lhe o mosteiro, que se debruça sobre a margem do Douro, em Miragaia.
Cruzou os braços Simão, e viu através do gradeamento do mirante um vulto,
Era Teresa.


As nove horas da manhã pediu a Constança que a acompanhasse ao mirante, e, sentando-se em ânsias mortais, nunca mais desfitou os olhos da nau, que já estava verga alta, esperando a leva dos degredados.
Quando viu, a dois a dois, entrarem, amarrados, no tombadilho, os condenados, Teresa teve um breve acidente, em que a já frouxa claridade dos olhos se lhe apagou, e as mãos conculsas pareciam querer aferrar a luz fugitiva.
Foi então que Simão Botelho a viu.

Para um tratado dos amores infelizes.

Durante um momento Castro Gomes esperou a voz de Carlos da Maia. Mas ele conservava uma face muda, impenetrável, onde apenas os olhos brilhavam angustiosamente na lívidez que a cobrira. Por fim, com um esforço, baixou de leve a cabeça, como acolhendo placidamente aquela revelação, que tornava outra qualquer palavra entre eles desnecessária e vã.
Mas Castro Gomes encolhera de leve os ombros, com uma lânguida resignação, como quem atribue tudo à malícia dos Destinos.
- São as ridículas cenas da vida... O Sr. Carlos da Maia está daí a ver as coisas. É a velha, a clássica história... Há três anos que eu vivo com essa senhora; quando tive o inverno passado de ir ao Brasil, trouxe-a a Lisboa para não vir sozinho. Fomos para o hotel Central. V. Exc.ª compreende perfeitamente que eu não fui fazer confidências ao gerente do estabelecimento. Aquela senhora vinha comigo, dormia comigo, portanto, para todos os efeitos do hotel, era minha mulher. Como mulher de Castro Gomes ficou no Central; como mulher de Castro Gomes alugou depois uma casa na rua de S. Francisco; como mulher de Castro Gomes tomou enfim um amante... Deu-se sempre como mulher de Castro Gomes, mesmo nas circunstâncias mais particularmente desagradáveis para Castro Gomes... E, meu Deus! não podemos realmente condena-la muito... Achava-se por acaso revestida duma excelente posição social e dum nome puro, seria mais que humano que o seu amor da verdade a levasse, apenas conhecia alguém, a declarar que posição e nome eram de empréstimo e ela era apenas «Fulana de tal, amigada...» De resto, sejamos justos, ela não era moralmente obrigada a dar semelhantes explicações ao tendeiro que lhe vendia a manteiga, ou à matrona que lhe alugava a casa: nem mesmo, penso eu, a ninguém, a não ser a um pai que lhe quisesse apresentar sua filha, saída do convento... Demais a mais sou eu que tenho um pouco a culpa; muitas vezes, em coisas relativamente delicadas lhe deixei usar o meu nome. Foi, por exemplo, com o nome de Castro Gomes que ela tomou a governante inglesa. As inglesas são tão exigentes!... Aquela, sobretudo, uma rapariga tão séria... Enfim tudo isso passou... O que importa agora é que eu lhe retiro solenemente o nome que lhe emprestara; e ela fica apenas com o seu, que é Madame Mac-Gren.
Carlos ergueu-se, lívido. E com as mãos fincadas nas costas da cadeira tão fortemente, que quasi lhe esgaçava o estofo:
- Mais nada, creio eu?
Castro Gomes mordeu de leve os beiços perante este remate brutal que o despediu.
- Mais nada, disse ele tomando o chapéu e levantando-se muito vagarosamente. Devo apenas acrescentar, para evitar a V. Exc.ª suspeitas injustas, que aquela senhora não é uma menina que eu tivesse seduzido, e a quem recuse uma reparação. A pequerruchinha que ali anda não é minha filha... Eu conheço a mãe somente há três anos... Vinha dos braços dum qualquer, passou para os meus... Posso pois dizer, sem injuria, que era uma mulher que eu pagava




Os Maias

Mapa do Brasil

outubro 17, 2005

Um idiota no "Sunday Times"! (Apenas excertos da idiotice mor!)

"Table Talk by AA Gill - Restaurant Tugga

I’ve never been to Portugal, so my prejudices about the salty Iberian appendix are unsullied and uncorrupted by acquaintance. It is with a disinterested authority therefore, that I can say Portugal is Belgium for golfers, a place so forgettable that the rest of us haven't even bothered to think up a rude nickname for it. Portugal is Britain's oldest ally — like that keen exchange student your mother forced you to be nice to, and who turned up in paperweight glasses and national costume. It's also the only colonial power that was given independence by its own colony. Brazil told Lisbon it would just have to stand on its own two feet now, because, frankly, being seen out with it was getting embarrassing. Portugal's colonial reputation was for being overfamiiiar with the folk they were ripping off. In fact, there is a theory that the Portuguese only got an empire as a desperate attempt to get laid. The world is dotted with plain mates on double dates, countries that are gawkier, hairier, shyer, goofier and less entertaining than their friends. Their main purpose is to make the next-door neighbour look good. Obviously, there's Canada, which is the ugly friend of America. New Zealand is the dingo date for Australia. Ulster is the foul-gobbed psycho with a neck tattoo out with lyrical, literate, craicing Eire. But how depressing must it be to be the forgettable one out on a date with Spain? It's a Ladyshave assault course. Portugal has been doomed to be the mini-me España. It's Spain that's famous for sailors and discoverers, when, in fact, the Portuguese were better and braver at it. Spain got fascism and Franco; Portugal just got some bloke called Salazar, but nobody noticed. Spain got bullfights, flamenco, Penelope Cruz and Real Madrid; Portugal got golf courses, Porto, gout and domestic servants. Name three famous Portuguese who weren't sailors. Or three of your favourite Portuguese dishes. Okay, so there's bacalao (salt cod), those little custard tarts and, erm, another one of those delicious little custard tarts. ...........

(E a estupidez continua!)

outubro 15, 2005

O Sousita não sabe se classifica nos amores infelizes ou nos outros

La chanson des vieux amants


(1967)

Bien sûr nous eûmes des orages

Vingt ans d'amour c'est l'amour fol

Mille fois tu pris ton bagage

Mille fois je pris mon envol

Et chaque meuble se souvient

Dans cette chambre sans berceau

Des éclats des vieilles tempêtes

Plus rien ne ressemblait à rien

Tu avais perdu le goût de l'eau

Et moi celui de la conquête

Mais mon amour

Mon doux mon tendre mon merveilleux amour

De l'aube claire jusqu'à la fin du jour

Je t'aime encore tu sais je t'aime

Moi je sais tous tes sortilèges

Tu sais tous mes envoûtements

Tu m'as gardé de piège en piège

Je t'ai perdue de temps en temps

Bien sûr tu pris quelques amants

Il fallait bien passer le temps

Il faut bien que le corps exulte

Finalement finalement

Il nous fallut bien du talent

Pour être vieux sans être adulte
s
Oh mon amour

Mon doux mon tendre mon merveilleux amour

De l'aube claire jusqu'à la fin du jour

Je t'aime encore tu sais je t'aime

Et plus le temps nous fait cortège

Et plus le temps nous fait tourment

Mais n'est-ce pas le pire piège

Que vivre en paix pour des amants

Bien sûr tu pleures un peu moins tôt

Je me déchire un peu plus tard

Nous protégeons moins nos mystères

On laisse moins faire le hasard

On se méfie du fil de l'eau

Mais c'est toujours la tendre guerre

Oh mon amour

Mon doux mon tendre mon merveilleux amour

De l'aube claire jusqu'à la fin du jour

Je t'aime encore tu sais je t'aime.

outubro 13, 2005

Para um tratado dos amores infelizes.





A um peido durante o coito



Cagou-se a mulher que eu mais amava

quando a paixão se estava a consumar,

Cupido largou setas e aljava,

recolheu-se ao Olimpo a praguejar.



Sobre o leito do Amor quis o destino,

vibrando um golpe baixo e imoral,

que mais pudesse o fétido intestino

que o vigoroso instinto sexual.



Fez-se o chouriço então em farinheira,

onde havia suspiros houve risada,

a cona se fechou muito fagueira,


o caralho murchou à gargalhada

e a seus males juntou mais um achaque -

a impotência que lhe deu um traque.


Fernando Correia Pina

outubro 12, 2005

O que há em mim é sobretudo cansaço

Não disto nem daquilo,

Nem sequer de tudo ou de nada:

Cansaço assim mesmo, ele mesmo,

Cansaço.



A subtileza das sensações inúteis,

As paixões violentas por coisa nenhuma,

Os amores intensos por o suposto alguém.

Essas coisas todas -

Essas e o que faz falta nelas eternamente -



Tudo isso faz um cansaço,



Este cansaço,



Cansaço.



Há sem dúvida quem ame o infinito,

Há sem dúvida quem deseje o impossível,

Há sem dúvida quem não queira nada -

Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:



Porque eu amo infinitamente o finito,

Porque eu desejo impossivelmente o possível,

Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,

Ou até se não puder ser...

E o resultado?



Para eles a vida vivida ou sonhada,

Para eles o sonho sonhado ou vivido,

Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...



Para mim só um grande, um profundo,

E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,

Um supremíssimo cansaço.

Íssimo, íssimo. íssimo,



Cansaço...



Álvaro de Campos, Ficções do Interlúdio

outubro 07, 2005

Para um tratado dos amores felizes.

CONSEJOS DE AFRODITA




A la hora del amor llega desnudo,

desnudo y puro,

como quien vive su muerte y resucita.

BESA

hasta que sean de piedra tus labios

y tu lengua.

ACARICIA

hasta que palidezcan los tigres camorreros.

ENTRÉGATE

con la avidez del sediento en la taberna,

con fervor, con pavor,

no retrocedas.



Y en la batalla de labios y de huesos,

en la apretada urdimbre de dos cuerpos

baja cantando, como un minero iluminado,

para cavar muy hondo entre dos muslos.



Flor Alba Uribe

Viver sem medo...

Ontem ouvi o seguinte comentário:


“Não se pode viver com medo de sofrer. O sofrimento faz parte da Vida e é inevitável. Se calhar o nosso medo evita-nos algum tipo de sofrimento mas deixamos de viver em plenitude e viver sem ser em plenitude também é viver em sofrimento. Por outro lado, se nos entregamos à Vida sem medo, entramos em sintonia com a nossa essência e, ao fazê-lo, talvez soframos menos porque a Vida deixa de ter necessidade de nos colocar obstáculos com o objectivo de nos redireccionar para nós mesmos.”


Será?

outubro 04, 2005

História de um hiato...

Perdoará quem gastar os seus neurónios com esta (primeira) contribuição para a “Baixa” que aqui me atreva a um exercício de memória sobre a história recente do nosso burgo: ele só é motivado pelo amor ao dito - e pela lembrança, que creio socialmente útil, de que estas reflexões são obrigatórias, pelo menos uma vez de quatro em quatro anos…


Fruto de uma infeliz e objectiva conjugação de infelicidades - uma grande contestação ao governo central; um regresso sobranceiro, como “Presidente” e não como candidato, do ex-ministro Fernando Gomes; uma relação mal resolvida entre este e Nuno Cardoso, com afectos conquistados na Cidade; e, acima de tudo, uma convicção do eleitorado de que o voto útil não era necessário, tal era a certeza da eleição do candidato favorito – eis que Rio desaguou no Porto!



Ninguém ficou então mais espantado, e assustado…, do que o próprio, e isso foi evidente nos primeiros tempos de mandato.


A equipa tinha sido formada para perder e não para ganhar: e o próprio Presidente via-se investido num cargo que nunca pensou na verdade ocupar, forçado a conceber, “em andamento”, os objectivos, a estratégia e a prática!...


É fruto disso, mais do que de qualquer “mau feitio” endógeno, a sensação que a Cidade foi vivendo, na alma e no quotidiano concreto: a de ter um Presidente zangado com ela própria – dizendo mal, em vez de mobilizar; destruindo, em vez de corrigir ou de adaptar; negando primeiro, para depois analisar.


Tudo isto agravado pelas limitações de uma equipa pouco qualificada, incoerente, nada homogénea – toda ela apostada em cultivar o bom senso, a sensibilidade política, e a soma de vários estilos pessoais, segundo a mais pura lógica do elefante num loja de porcelanas.



Tivemos assim, durante quatro anos, não uma Edilidade governada, mas uma oposição no poder da Câmara.


Daí os conflitos absurdos nas mais diversas áreas – do Desporto à Cultura, do Urbanismo à área social, do combate à droga e à marginalidade ao estímulo das elites e da iniciativa empresarial – que só conduziram a uma inegável perda de auto-estima da Cidade e da Região, e a um verdadeiro hiato de afirmação e projecção para o exterior.


Assistimos, em suma, durante quatro anos, ao “desenvolvimento” de uma estratégia de oposição, não de poder..., de desagregação e de desmembramento, ao invés do espírito fazedor e construtivo que tem de presidir mesmo ao mais absurdo dos projectos!



Ora, em eleições resolvem-se problemas de política.


Daí a minha convicção profunda de que, dentro de uma semana, teremos contas feitas à moda do Porto – onde ainda contam muito os afectos, e a tolerância... – para passar o hiato à história.



[também publicado n'A Baixa do Porto]