outubro 19, 2005

a propósito do terramoto na Ásia e da tempestade em N.Orleans

Dói muito mais arrancar um cabelo a um europeu

que amputar uma perna, a frio, a um africano.

Passa mais fome um francês com três refeições por dia

que um sudanês com um rato por semana.

É muito mais doente um alemão com gripe

que um indiano com lepra.

Sofre muito mais uma americana com caspa

que uma iraquiana sem leite para os filhos.

É mais perverso cancelar o cartão de crédito a um belga

que roubar o pão da boca a um tailandês.

É muito mais grave deitar um papel para o chão na Suíça

que queimar uma floresta inteira no Brasil.

É muito mais intolerável o shador de uma muçulmana

que o drama de mil desempregados em Espanha.

É mais obscena a falta de papel higiénico num lar sueco

que a de água potável em dez aldeias do Sudão.

É mais inconcebível a escassez de gasolina na Holanda

que a de insulina nas Honduras.

É mais revoltante um português sem telemóvel

que um moçambicano sem livros para estudar.

É mais triste uma laranjeira seca num colonato hebreu

que a demolição de um lar na Palestina.

Traumatiza mais a falta de uma Barbie uma menina inglesa

que a visão do assassínio dos pais a um menino ugandês

e isto não são versos; isto são débitos

numa conta sem provisão do ocidente.





Fernando Correia Pina