Perdoará quem gastar os seus neurónios com esta (primeira) contribuição para a “Baixa” que aqui me atreva a um exercício de memória sobre a história recente do nosso burgo: ele só é motivado pelo amor ao dito - e pela lembrança, que creio socialmente útil, de que estas reflexões são obrigatórias, pelo menos uma vez de quatro em quatro anos…
Fruto de uma infeliz e objectiva conjugação de infelicidades - uma grande contestação ao governo central; um regresso sobranceiro, como “Presidente” e não como candidato, do ex-ministro Fernando Gomes; uma relação mal resolvida entre este e Nuno Cardoso, com afectos conquistados na Cidade; e, acima de tudo, uma convicção do eleitorado de que o voto útil não era necessário, tal era a certeza da eleição do candidato favorito – eis que Rio desaguou no Porto!
Ninguém ficou então mais espantado, e assustado…, do que o próprio, e isso foi evidente nos primeiros tempos de mandato.
A equipa tinha sido formada para perder e não para ganhar: e o próprio Presidente via-se investido num cargo que nunca pensou na verdade ocupar, forçado a conceber, “em andamento”, os objectivos, a estratégia e a prática!...
É fruto disso, mais do que de qualquer “mau feitio” endógeno, a sensação que a Cidade foi vivendo, na alma e no quotidiano concreto: a de ter um Presidente zangado com ela própria – dizendo mal, em vez de mobilizar; destruindo, em vez de corrigir ou de adaptar; negando primeiro, para depois analisar.
Tudo isto agravado pelas limitações de uma equipa pouco qualificada, incoerente, nada homogénea – toda ela apostada em cultivar o bom senso, a sensibilidade política, e a soma de vários estilos pessoais, segundo a mais pura lógica do elefante num loja de porcelanas.
Tivemos assim, durante quatro anos, não uma Edilidade governada, mas uma oposição no poder da Câmara.
Daí os conflitos absurdos nas mais diversas áreas – do Desporto à Cultura, do Urbanismo à área social, do combate à droga e à marginalidade ao estímulo das elites e da iniciativa empresarial – que só conduziram a uma inegável perda de auto-estima da Cidade e da Região, e a um verdadeiro hiato de afirmação e projecção para o exterior.
Assistimos, em suma, durante quatro anos, ao “desenvolvimento” de uma estratégia de oposição, não de poder..., de desagregação e de desmembramento, ao invés do espírito fazedor e construtivo que tem de presidir mesmo ao mais absurdo dos projectos!
Ora, em eleições resolvem-se problemas de política.
Daí a minha convicção profunda de que, dentro de uma semana, teremos contas feitas à moda do Porto – onde ainda contam muito os afectos, e a tolerância... – para passar o hiato à história.
[também publicado n'A Baixa do Porto]