janeiro 28, 2008

Confidências

Poema de Almada Negreiros (1893-1970)
Poeta e artista plástico do Modernismo português

Mãe!
Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei! Traze tinta encarnada para escrever estas coisas! Tinta cor de sangue, sangue! verdadeiro, encarnado!
Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens! Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.

Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me a teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.

Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.

Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!

janeiro 22, 2008

Coisas que me irritam

- Hoje a polícia fez explodir uma mochila porque não se sabia o que continha. As pessoas já começaram a reclamar porque agora não se sabe o que é que continha a mochila. Quem as fará entender que poderíamos descobrir da pior forma?

- No México foram criados autocarros só para mulheres devido ao assédio que elas sofriam nos autocarros mistos. Acho bem. Mas irrita-me que coisas destas ainda sejam necessárias. De qualquer modo, quer-me parecer que aqui por Portugal também poderiam inventar um sistema igual…

- Meninos fumadores, compreendo que seja complicado estarem a fumar ao frio e tenho simpatia por todos aqueles que o fazem sem andar a fazer papel de Calimero. O que me irrita? Que alguns ainda não tenham percebido que o Governo não se quer imiscuir na liberdade de se matarem. Está apenas preocupado que não matem ninguém no caminho.

- Agora andam para aí uns a defender que os fumadores não deveriam ter comparticipação do Estado no tratamento de doenças que advenham do facto de fumar. E que fazemos aos que têm arteriosclerose porque nunca se preocuparam com a alimentação? E os que têm ataques cardíacos porque trabalham demais? E os que têm doenças sexualmente transmissíveis? E os que têm cancro provocado por outros agentes cancerígenos? E os que têm cirrose? O melhor será o Estado só tratar aqueles que não fazem nada. Espera… esses podem ter depressões!

Há mais umas coisitas que me irritam mas hoje não me lembro de nenhuma. Deve ser porque estou muito bem disposta!

janeiro 09, 2008

Saudades


Saudade é uma palavra que só existe em português. Dizem. Não sei se assim é mas o que eu considero é que é, acima de tudo, um sentimento muito português. Nós apegamo-nos muito às coisas, às pessoas e às situações. Sentimos sempre que o passado é que foi bom, que o que nós vivemos no passado é que tem significado, que o futuro é uma nuvem negra e quanto ao presente nem nos damos conta que existe.

Claro que tudo isto são generalizações. Mas também a verdade é que cada um de nós é influenciado não só pelo que já viveu mas também por aquilo que os outros viveram, assim como, pela sua cultura. Logo, cada um de nós tem em si um pouco deste nosso viver fatalista.

Tudo isto para dizer que regressar a Lisboa nem sempre é fácil. Às vezes custa imenso vir embora do Porto, custa separar-me das pessoas de quem gosto ainda que saiba que, à partida e no máximo, essa separação terá a duração de um mês. E muitas vezes custa porque me ponho a pensar nas coisas boas que vivi com aquelas pessoas, nos momentos desse fim-de-semana ou em momento ainda mais passados. Em vez de me concentrar nas coisas boas que tenho em Lisboa e que correspondem ao meu presente, em vez de me concentrar na forma como me sinto em paz e como isso me permite estar em paz com os meus, em vez de me concentrar no que estou a viver, opto por me concentrar no passado, no que foi bom lá atrás, correndo o risco de deixar passar o que é bom no presente.

E é pensando nestas coisas que acabo por ultrapassar essa saudade dos dois primeiros dias e aproveitar cada momento bom que a vida me tem dado.

As nossas escolhas e opções são aquilo que nos permitem fazer o caminho da felicidade. Está muitas e muitas vezes nas nossas mãos o sentirmo-nos felizes, nem que seja por nos concentrarmos nas coisas boas em vez de nos focalizarmos nas más.

Vir para Lisboa foi uma opção. As coisas nem sempre correram como eu desejava mas o saldo é francamente positivo. Em alguns Domingos penso como seria a minha vida se a escolha tivesse sido outra.

Foi uma escolha, aparentemente fácil, mas que na realidade foi difícil. Foi uma escolha que me permitiu crescer. Foi uma escolha da qual me orgulho. Foi uma escolha que me permite hoje saber que sem essa escolha eu não seria quem sou hoje nem teria a capacidade de ver as coisas como as vejo.

Acima de tudo sinto-me feliz com a minha vida. Gosto muito de vocês e gosto muito da vida que tenho.

Até ao próximo fim-de-semana no Porto! :)

janeiro 02, 2008

Um excelente 2008 para todos nós!

Para dizer qualquer coisa sobre o ano que se inicia, fui repescar um texto que escrevi em Dezembro de 2006 porque me veio à cabeça várias vezes durante a Passagem de Ano. Alterei o final para se acomodar melhor às novas condições.

«Está a chegar um Ano novinho em folha para podermos escrever nele aquilo que quisermos.

A sensação é parecida com a que se tem quando se compra um novo caderno e ele vem cheio de páginas em branco para preenchermos com o que desejarmos.

Podemos enchê-lo com contas e mais contas. Podemos enchê-lo com palavras amargas de quem está desiludido com a Vida. Podemos enchê-lo com palavras maldosas dirigidas a outros. Podemos enchê-lo com queixas e mais queixas de tudo de mal que nos acontece. Podemos enchê-lo com grandes dúvidas existenciais. Podemos enchê-lo com grandes e específicos planos para a nossa vida.

Podemos também deixar passar os dias e não escrever absolutamente nada. Deixá-lo em branco enquanto o transportamos de um lado para o outro e o vamos gastando, sujando e estragando mas sem o tornarmos significativo. E depois atirá-lo para um monte e um dia mais tarde descobrir que é apenas um caderno em branco que nunca serviu para nada.

Mas podemos também enchê-lo com lindos poemas, com lindos textos feitos por nós ou transcritos de alguém. Podemos enchê-lo com palavras de amor pelos outros. Podemos enchê-lo com palavras de gratidão pelo que nos acontece sabendo que tudo tem um sentido. Podemos enchê-lo com planos de evolução calma e fluida. Podemos enchê-lo com piadas que provocam risos ou desenhos de abraços que comovem.»

Eu vou tentar que deste caderno não faça parte aquilo que me aconselharam a deixar para trás: Dificuldade em Confiar!

Vou tentar enchê-lo com aquilo que desejei para mim: Independência Emocional que me permita seguir o meu próprio caminho com confiança na minha forma de ver a Vida!

Um Bom Ano de 2008 para vocês!