dezembro 16, 2005

O Sousa invocou o Mário Cesariny numa mesa pé de galo para acabar com a questão e ele disse:


O Álvaro gosta muito de levar no cu
O Alberto nem por isso
O Ricardo dá-lhe mais para ir
O Fernando emociona-se e não consegue acabar.

O Campos
Em podendo fazia-o mais de uma vez por dia
Ficavam-lhe os olhos brancos
E não falava, mordia. O Alberto
É mais por causa da fotografia
Das árvores altas nos montes perto
Quando passam rapazes
O que nem sempre sucedia.

O Fernando o seu maior desejo desde adulto
(Mas já na tenra idade lhe provia)
Era ver os heteros a foder uns com os outros
Pela seguinte ordem e teoria:
O Ricardo no chão, debaixo de todos (era molengão
Em não se tratando de anacreônticas) introduzia-
-Se no Alberto até à base
E com algum incómodo o Alberto erguia
[...]

Mário Cesariny

dezembro 08, 2005

Passem por aqui, que é um novo link "Encandescente"...

Só para chatear os dois, respeitosamente, com a verdadeira essência do Caeiro...

Se quiserem que eu tenha um misticismo, está bem, tenho-o.
Sou místico, mas só com o corpo.
A minha alma é simples e não pensa.
O meu misticismo é não querer saber.
É viver e não pensar nisso.

Não sei o que é a Natureza: canto-a.
Vivo no cimo dum outeiro
Numa casa caiada e sozinha,
E essa é a minha definição

dezembro 07, 2005

Resposta, também muito respeitosa, ao osousadaponte

A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas
Age como um deus doente, mas como um deus.
Porque embora afirme que existe o que não existe
Sabe como é que as cousas existem, que é existindo,
Sabe que existir existe e não se explica,
Sabe que não há razão nenhuma para nada existir,
Sabe que ser é estar em um ponto
Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer.
-Alberto Caeiro

Resposta, muito respeitosa, à salseira:

Dizes-me: tu és mais alguma cousa
Que uma pedra ou uma planta.
Dizes-me: sentes, pensas e sabes
Que pensas e sentes.
Então as pedras escrevem versos?
Então as plantas têm idéias sobre o mundo?
Sim: há diferença.
Mas não é a diferença que encontras;
Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as cousas:
Só me obriga a ser consciente.
Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.
Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.


Mas não digo isso: digo da pedra, "é uma pedra",
Digo da planta, "é uma planta",
Digo de mim, "sou eu".
E não digo mais nada. Que mais há a dizer?

Alberto Caeiro

Para um tratado dos amores infelizes


Ele deitou-a na cama estreita, levantou-lhe a camisola e ela falava de amor, filmes e happy ending’s, e ele aflito com os colchetes do soutien pensava porque não tinha aquilo um adesivo autocolante, era mais prático. E ela a perguntar-lhe se a amava, e ele que sim claro e merda esta gaja não me ajuda, porra já está. E ela, tens uns olhos lindos, profundos e ele a apalpar-lhe o peito, a boca nos mamilos e ela ai não mordas com tanta força, e ele apertado nas calças o sexo tumefacto a roçar nas calças dela e ela a falar de amor e filmes e happy ending’s como nos filmes com a Meg Ryan que ela adorava ver, e ele a abrir o fecho e a soltar o sexo, a procurar o fecho das calças dela, estou com o período temos de esperar...E ele na casa de banho, sozinho, procurando alivio e um happy end.
\li
Home page da autora: http://encandescente.home.sapo.pt/contos.htm
\li
Pintura : Munch, adolescência

dezembro 06, 2005

Navegar é Preciso - de Fernando Pessoa

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:


"Navegar é preciso; viver não é preciso".

Quero para mim o espírito [d]esta frase,

transformada a forma para a casar como eu sou:

Viver não é necessário; o que é necessário é criar.

Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.

Só quero torná-la grande,

ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.

Só quero torná-la de toda a humanidade;

ainda que para isso tenha de a perder como minha.

Cada vez mais assim penso.

Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue

o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir

para a evolução da humanidade.

É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

dezembro 04, 2005

"As estradas leves"

As nuvens, não construídas, engendradas

no repouso, não ideias mas formas

que respiram e caminham e quase falam,

são a fluência de um princípio que não cessa

e tudo o que vai ser, na mais viva iminência.

Assim um deus criaria o espaço puro

no sopro do desejo,

avançando no silêncio como um barco.

Assim, não para construir, mas para abrir

através da sombra, através da cinza,

e para além das palavras, as portas indecisas

em que brilhem os signos e as figuras

indecifráveis

António Ramos Rosa

dezembro 02, 2005

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